14/10/2015

Obra : Lucíola - José de Alencar


Lucíola



  • Resumo:
No dia de sua chegada ao Rio de Janeiro, após o jantar, Paulo sai em companhia de um amigo para conhecer a cidade. Na rua vê passar em um carro uma jovem belíssima. Um imprevisto faz parar o carro, o que dá a Paulo a oportunidade de reparar melhor na moça. Após alguns dias, em companhia do Dr. Sá, Paulo participa da festa de N. Senhora da Glória, e tem a oportunidade de ver a moça novamente. O amigo lhe conta tratar-se de Lúcia,a prostituta mais bela,requintada e disputada da cidade. Algum tempo depois Paulo vai a procura de Lúcia, levado pelo desejo de possuí-la. Mas depois de longa e agradável conversa, acaba se surpreendendo com o "casto e ingênuo perfume que respirava de toda a sua pessoa". E ele, que fora cheio de desejos, agora na rua, se acha ridículo por não ter sido mais ousado. No dia seguinte Paulo, volta à casa de Lúcia. Mas aí seu primeiro ataque a moça se opõe e chora. Achando que ela está fingindo, ele se mostra aborrecido e ela reage atirando-se completamente nua em seus braços. No auge do prazer do sexo, Paulo percebe algo diferente nas carícias de Lúcia: mesmo no clímax do gozo,parecia que ela sofria. Sente, na hora, uma imensa pena, ao que ela responde : -Que importa?Contanto que tenha gozado de minha mocidade ! De que serve a velhice às mulheres como eu ?". Ele quer pagar-lhe,mas ele rejeita com um meigo aperto de mão. E as informações que lhe chegam a seu respeito são as piores. O Cunha diz que ela é "a mais bonita do Rio e também a mais caprichosa e excêntrica." Ninguém a compreende, pois nunca fica muito tempo com o mesmo amante. " Além do mais, é avarenta. Vende tudo o que ganha. Até roupas."Para Paulo, no entanto, ela parece ser o contrário de tudo isso. Já abalado com a terrível revelação, Paulo se dreprime ainda mais ao presenciar o espetáculo que Lúcia promove na casa de Sá um homem dado a orgias. Lúcia exibe-se nua sobre a mesa, imitando as cenas libertinas dos quadros que decoram as paredes da casa. Paulo sente, ao mesmo tempo, raiva, piedade e paixão pela cortesã. Ao sair para o jardim da casa, ela se explica a ele dizendo que: fez aquilo por desespero, pois ele havia zombado dela momentos antes. E fala que se não o fizesse teria sido uma decepção total, afinal o que Sá pretendia era mostrar a ele quem era Lúcia. Em seguida, os dois declaram-se apaixonados e terminam se amando sobre a relva. Decorridos alguns dias, Paulo, de certo modo, passa a morar com Lúcia, e, apesar das prevenções e restrições, mais e mais se liga a ela por afeto. Lúcia, por sua vez, já ama Paulo. E se entrega a ele como a um dono e senhor. Há momentos de atritos entre ambos. Passageiros, e todos causados pelo egoísmo e incompreensão de Paulo que não entende as profundas transformações que seu afeto operou nela. E a tal ponto, que ela não suportaria mais a ideia de se entregar na cama, pois sente por ele um amor muito puro e profundo. E ele, levado mais pro desejo que por afeto, não consegue aceitar esse comportamento sublime. As más línguas já comentam que Paulo, além de viver à custa de Lúcia, ainda a proíbe de frequentar a sociedade. Lúcia, que já então procurava viver mais retraída, dispõe-se a voltar à vida mundana apenas para salvar-lhe a reputação. Mas Paulo não compreende. Lúcia já não vibra como outrora, mesmo quando excitada por Paulo. É a doença que já se faz sentir. Paulo não entende essa frieza e por vezes se exauspera. Ela sofre calada, pois reconhece que "o amor para uma mulher como eu seria a mais terrível punição que Deus poderia infligir-lhe!". O grande sentimento que os unia, arrefece, dando lugar a uma amizade simplesmente. O comportamento de Lúcia é cada vez mais sublime e heróico. Já não existe mais nada da antiga cortesã. E Paulo, por fim, entende essa nobreza de caráter e compreende o porquê das suas recusas. Ela lhe recusava o corpo porque o amava em espírito. E também porque já está doente. Paulo promete respeitá-la de ora em diante. Após uma injustificada crise de ciúmes de Paulo, Lúcia enfim conta-lhe sua vida anterior, revelando que se prostituíra para ajudar sua família, de classe média, mas duramente emprobecida durante uma epidemia de febre amarela. Seu pai, porém,sabendo da origem do dinheiro, e supondo ter a filha um amante, a expulsou de casa. Sozinha, sem ter aonde ir, foi acolhida por uma mulher, Jesuína, que, quinze dias depois, a conduziu à prostituição, estipulando pela beleza de seu corpo um alto preço. Uma colega de infortúnio foi morar com ela. Chamava-se Lúcia. Tornaram-se amigas. Lúcia morreu pouco depois. No atestado de óbito,a heroína fez constar que a falecida se chamava Maria da Glória, adotando para si o nome da amiga morta. "Morri pois para o mundo e para minha família. Meus país choravam sua filha morta; mas já não se envergonhavam de sua filha prostituída."E todo dinheiro que ganhava, destinava-o à preparação de um dote para sua irmã, Ana,a qual passou a manter num colégio interno depois da morte dos pais. Agora, Paulo compreende ainda melhor as atitudes misteriosas e contraditórias e passa a sentir por ela uma grande ternura e um amor sincero. Seguem-se dias tranquilos. Lúcia muda-se para uma casinha modesta e busca Ana no internato e as irmãs passam a viver juntas. Paulo tenta novamente conquistar o amor da jovem, mas esta - embora correspondendo aos sentimentos do rapaz - recusa-se ao relacionamento, alegando que para destruir a sua condição de prostituta, precisava renunciar inclusive a seus sentimentos. Em seguida,pede a Paulo que se case com a irmã, porém este, desesperado, se nega a realizado pedido. Lúcia aborta o filho que esperava de Paulo. Ela se recusa a tomar remédio para expelir o feto morto, dizendo "Sua mãe lhe servirá de túmulo". E já no leito de morte, recebe o juramento de Paulo pretendo-lhe cuidar de Ana como sua filha. E morre docemente nos braços de seu amado, indo amá-lo por toda a eternidade. Ao encerrar a correspondência diriginda à senhora G.M., Paulo informa que - conforme a promessa - servirá de pai para Ana até que esta se case. 

  • Personagens: 
Principais:

Lúcia(Maria da Glória): com 19 anos é a cortesã mais rica e desejada do Rio de Janeiro, excêntrica e vista por muitos como avarenta, adotou o nome de Lúcia após a morte de uma amiga, que era quem o possuía, era a heroína da história. 
Paulo: personagem-narrador, acabara de chegar ao Rio de Janeiro, com 25 anos, bacharelado, provinciano de Olinda, veio para conhecer a vida da corte. 
Anã: irmã de Lúcia, mais nova com 12 anos muito parecida com ela,estuda em um colégio interno e posteriormente com a irmã. 

Secundários:

Nina e Laura: cortesãs que estavam na festa de Sá, invejam Lúcia por sua riqueza e prestígio. Rochinha: rapaz da roda de amigos de Sá, o mais jovem, com 17 anos e já entregue ao álcool. 
Sr. Couto: foi o primeiro a oferecer dinheiro a Lúcia em troca de relações sexuais, quando ela tinha 14 anos. 
Jesuína: mulher que acolheu Lúcia quando esta foi expulsa de casa pelo pai,aparece também como enfermeira na casa. 

  • Temas da Obra:
Amor carnal versus O amor espiritual : Lúcia sentia-se impura,e por isso recusava entregar seu corpo a Paulo, mas este levado mais pelo desejo que pelo afeto,não compreende as atitudes da jovem. 
Lúcia, a heroína da estória: a total transformação da cortesã, que passa a ser uma espécie de senhora em razão de seu profundo e puro amor que sentia por Paulo. 
O amor idealizado : Lúcia não se vê digna de Paulo, via-se maculada e impura e prefere a morte a não poder viver seu amor. 
O preconceito da sociedade : Paulo apresenta uma dualidade, quando encontra-se envolvido pelo amor à Lúcia,cortesã, e quando deixa explicitado o preconceito da sociedade, contextualizado em seu personagem, no ato de se recusar a contar sua própria história a senhora G.M. e a faz por carta. Lúcia também expressa esse preconceito quando não se vê digna de Paulo, o preconceito contra sua própria classe (as cortesãs). 
  • Contexto histórico: 
Se passa no século XIX no período do segundo reinado, a sociedade burguesa ganhava força e impunha suas regras sociais, a corte trazia seu esplendor nas festas e comportamento. O livro se encaixa no período do Romantismo, mas já apresenta traços do Realismo. 

  • Verossimilhança: 
O livro Lucíola traz os costumes e hábitos da sociedade burguesa da época ,retrata todo o mecanismo funcional do pensamento encontrado na época, preconceitos, diferenças sociais que já eram visíveis, e vistas quando o autor descreve a festa da Glória e comportamento geral dos habitantes do Rio de Janeiro. 
  • Foco Narrativo: 
O livro é narrado em primeira pessoa por Paulo, narrador-personagem, e por isso apresenta uma visão limitada. 
  • Tempo:
Cronológico, o romance acontece a partir de 1855, século XIX, onde seis anos depois a história é enviada a senhora G.M. e cartas. 
  • Espaço da Narrativa:
A história se dá na cidade do Rio de Janeiro, destacando-se a Rua do Ouvidor, a Rua das Mangueiras, a Rua da Lapa e os ambientes das casas de Lúcia e da casa de Sá. 
  • Cometários a cerca da obra: 
Na melhor tradição romântica, Lucíola é um livro que fala de paixões tórridas e contraditórias. É o quinto romance de Alencar e o primeiro da trilogia que ele denominou de "Perfis de mulheres " (Lucíola, Diva e Senhora). Situa-se entre seus romances urbanos que representam um levantamento da vida burguesa do século XIX,há nessa obra um retrato ácido/crítico da sociedade carioca do Segundo Império, não entrando em consonância com a literatura de “diversão” dessa época. 
Lançado em 1862, o romance causou polêmica na sociedade da época por retratar a dualidade entre o amor e o preconceito. 
Mesmo com traços do Realismo "Lucíola" ainda deve ser considerada uma obra romântica porque a heroína Lúcia ainda é uma personagem idealizada. Ao longo da narrativa, ela vai se transformando de mulher fatal e demoníaca em uma mulher angelical, doce, insegura e apaixonada, o que corresponde ao ideal romântico da heroína. Essas duas versões da mulher, a mulher anjo versus a mulher demônio, é explicitada também na duplicidade nominal da personagem: há Lúcia, que exala sensualidade e é a mulher fatal; e Maria da Glória, que representa a mulher sensível, meiga, frágil e corresponde ao estereótipo romântico. 
O enredo de Lucíola é muito parecido com o de A dama das camélias, do escritor francês Alexandre Dumas. José de Alencar deixa essa referência muito clara na obra fazendo com que a personagem Lúcia leia A dama das camélias dentro do romance Lucíola. 
A intensão do autor é estabelecer uma estética genuinamente brasileira, mas que esteja equiparada à estética literária europeia. 
Por fim, o título do livro também é um ponto importante e que merece atenção. Quem deu esse título à obra seria a Sra. G.M. e ela explica o porquê de “Lucíola” no prólogo do livro: “Lucíola” seria um inseto que vive na escuridão à beira dos charcos, e que brilha com uma luz muito intensa. Assim, esse inseto seria como Lúcia, que vive dentro da escuridão, mas que conserva dentro de si uma alma pura. 
  • Frase célebre: 
"-Iremos juntos... murmurou descaindo inerte sobre as almofadas do leito. Sua mãe lhe servirá de túmulo."

  • Ficha técnica: 
Alencar, José de,1862. Lucíola. Literatura brasileira.

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